O homem encena
Sem nome
Sem rosto
Em cena, sobe ao palco
Todos aplaudem a exímia atuação
Eterna duração, o corpo convence
Mira atenta para os olhos
Mesma cena, inventa uma vida
Mas os olhos, translúcidos, entregam a cena
Vagueia, palco tortuoso
Inventa outra vida, outro jeito
Nova cena
EnCENA, segundo ato
Debruça em cena todo santo dia
Entrega ao santo
Reza o terço, sorri, assopra o samba
Dá piruetas, aplausos, encena
Triste existência
Aplausos ensurdecedores
Até a última cena
No cubículo existencial
Pós cena
Sozinho, não há plateia
O homem tem apenas a si mesmo
ressaqueado, o triste homem
Mas merecedor da ausência
O apego à cena, a vaidade rasga o corpo
Ele sai de cena, mas o ato permanece
Ato solene, coito, sem alma
Tempo agora. Encenação.
Ele desalma. Homem ato.